26 de fevereiro de 2014

Papa Francisco grava vídeo em Iphone

O Papa Francisco gravou um vídeo com um iPhone convidando os cristãos à unidade. A análise é do jesuíta Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, publicada no blog CyberTeologia. A tradução é de Moisés Sbardelotto para o Unisinos Eis o texto na íntegra. 1. O Papa Francisco abraça plenamente a lógica relacional da comunicação. O vídeo é gravado por um bispos não católico amigo do papa há anos. A gravação ocorre para que ela seja compartilhada com outros dentro de uma assembleia de oração. Nesse sentido, o papa reconhece o fato de que comunicar não significa simplesmente transmitir, mas sim compartilhar em um contexto de relações. Portanto, é sempre um testemunho. O vídeo tem um forte corte testemunhal. 2. O Papa Francisco não tem nenhum problema em mostrar a sua dificuldade em falar inglês. É sempre ele mesmo. Ele diz algumas palavras e depois passa para o italiano (não ao espanhol), mas dizendo que, na realidade, ele fala a língua do coração, que tem uma gramática simples. O papa, assim, parece autêntico, simples, sem filtros, sem necessidade de sets ou de luzes ajustadas. É ele mesmo, natural, à vontade. Resolvido. 3. O papa envia uma mensagem elevada, mas o faz de maneira simples e apelando a dois sentimentos: a nostalgia e a alegria. A sua mensagem é a do compromisso ecumênico. Ele se reconhece irmão entre irmãos. Diz que sente alegria e nostalgia. Alegria porque fala a irmãos que rezam, e isso leva a entender como o Senhor está agindo sempre e em todo o lugar. Mas também com nostalgia, nostalgia do abraço entre os cristãos. Porque os cristãos estão divididos. Falta-lhe esse abraço. As divisões entre os cristãos existem e são culpa dos nossos pecados, diz. Só o Senhor é justo. Ele sente a necessidade de convidar àquele pranto que reconcilia. Portanto, a sua mensagem se modula em dois níveis: o compromisso ecumênico a superar as divisões e os sentimentos de nostalgia e alegria. O sentimento de alegria é o primeiro, porque diz a unidade, o abraço agora possível e necessário. 4. O papa comunica essa mensagem elevada e comprometedora usando um meio pop como o iPhone e com uma mensagem que vai, acima de tudo, a pessoas reunidas e depois vai também a uma plataforma pop como o YouTube. Não só isso: nessa mensagem simples e direta, ele cita Alessandro Manzoni. Não há mais distinção entre alto e baixo, entre cultura que se transmite em formas altas e cultura pop que se transmite em formas populares. 5. O papa se volta a cristãos pentecostais, que representam uma grande solicitação para as Igrejas, especialmente as mais jovens. Nesse sentido, o papa abraça essa realidade, pede para rezar. Aceita a solicitação e a coloca em um plano de fé e de comunhão fraterna. A resposta do bispo protestante no seu discurso de apresentação desse vídeo é eloquente. A propósito dos protestantes, ele afirma: “The protest is over!” (O protesto acabou). Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=TsEJVP_eDAE#t=157

25 de julho de 2013

Confira na íntegra o discurso do Papa Francisco em visita a Comunidade de Varginha

Papa esteve hoje pela manhã no Conjunto de favelas do Manguinhos Rio de Janeiro - O papa esteve hoje pela manhã visitando a Comunidade de Manguinhos, onde falou com a população que o esperava ansiosamente desde cedo. Veja o discurso: Queridos irmãos e irmãs, Que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo erapoder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beberum "cafezinho", falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil étão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hojerepresenta todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocêsdecoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dosbrasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempestae ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras. 1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. Eé importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somosgenerosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo -não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocêssempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! E vocêsfazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade,que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os quepossuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social:Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível àsdesigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saibadar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, quefrequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura dasolidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo,incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” seráduradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona naperiferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial parasi mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquiloque se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os maisnecessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza! 2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveisdesigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboraçãoem todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos,certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, afome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeirodesenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais:a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência eremédio contra a desagregação social; a educaçãointegral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que éessencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode servencida a partir da mudança do coração humano. 3. Queria dizer uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuemuma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, compessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoasrepito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, ohomem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. AIgreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, evida em abundância» (Jo 10,10). Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estãosozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções quevocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolaçãonos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobresdo Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção.

22 de julho de 2013

Íntegra do discurso do Papa Francisco no 1º dia de visita ao Brasil

Papa foi recebido pela presidente Dilma Rousseff no Aeroporto do Galeão. Milhares acompanharam trajeto do papamóvel no Centro do Rio de Janeiro. O Papa Francisco chegou ao Brasil às 15h43 desta segunda-feira (22) para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e saudou os jovens em seu primeiro discurso, no Rio de Janeiro. "Cristo bota fé nos jovens", afirmou o pontífice argentino, que faz sua primeira viagem internacional desde que foi escolhido sucessor de Bento XVI. O Papa fica no país até domingo (28) e ainda visitará a cidade de Aparecida (SP), nesta quarta. Leia a íntegra do discurso a seguir: "Senhora Presidenta, Ilustres Autoridades, Irmãos e amigos! Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade. Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!” Saúdo com deferência a senhora presidenta e os ilustres membros do seu governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua Pátria. Cumprimento também o senhor governador deste Estado, que amavelmente nos recebe na sede do governo, e o senhor prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto ao governo brasileiro, as demais autoridades presentes e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita. Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas igrejas particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor. O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre todas as nações". Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade. Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos. Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações. Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta. A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos. Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençoo. Obrigado pelo acolhimento!"