Lembro-me de um episódio dos Trapalhões, do tempo em que eles ainda eram quatro e que piadas com extintor ainda eram engraçadas, em que o Zacarias chegava do trabalho e reclamava muito de dores no pé. Assim que ele chegava do trabalho, sentava no sofá e tirava os sapatos, suspirava e girava os olhos daquele jeito esquisito, sentia-se satisfeito. Logo em seguida alguém lhe perguntava algo como:
- Que número você calça Zacarias?
- 39
- E que número é este sapato aí?
- 35
- Então por que você não usa um calçado do seu número?
- É que eu sinto um alívio tão gostosos quando eu tiro.
Pode até parecer meio ridículo, mas o ato de escrever se parece muito com essa cena.
Não gosto da visão afetada, meio blasé até, de que escrever é uma tortura e nem aquela visão romântica de que tudo é lindo quando você está diante da folha em branco, cheia de possibilidades.
Ver uma boa ideia tomar forma no enlace ora adequado, ora tortuoso das palavras é sim uma coisa bonita e prazerosa. Porém o processo, até que tudo isso funcione perfeitamente - o que é praticamente impossível, já que quase sempre será possível melhorar o texto - é, pelo menos para mim, desgastante e não refuta alguns bocados de sofrimento (mas não no sentido novela-mexicana da palavra).
Escrever (pensar no tema, escolher o léxico, apagar, organizar a sintaxe, o estilo, etc) é como andar com os sapatos apertados: é difícil, mas, para quem se alimenta de palavras, é absolutamente necessário. Contudo, Zacarias sabia que a satisfação ao chegar em casa seria muito maior do que o incômodo de sentir os pés esmagados durante todo o dia.
Ver o texto pronto é, pois, tirar os sapatos e sentir essa maravilhosa sensação de alívio.
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